Seja bem-vindo. Hoje é

CRISTAIS ROSAS

 A hera dorme no muro,
crescendo para lá
e para cá, sem muita preocupação.

Um ar de desolação
habita aquela casa com janelões
de madeira
e histórias para contar.

Dentro da casa,
há uma dama,
uma mulher nublada
de longos cabelos tristes.

Não sei se a casa
mora dentro dela.
Não sei.

Alguns dizem
que ela já foi feliz.
Tinha os cabelos negros
enfeitados por flores
e mansidão.
Tinha luvas de rendas
brancas e um homem
que sempre segurava
as suas mãos doces.

Quando a vejo,
penso que um dia,
ela sorriu.

O homem já se foi
e com ele, o perfume dela
e todas as flores do jardim.

Aquela mulher silenciosa
é um resto de ternurinha,
uma pétala guardada dentro
de um romance antigo.

O amor quando se vai assim
e deixa tanta coisa para trás
é uma vela queimando
ao vento.

Um dia,
pude vê-la chorando
com uma foto amarela
encostada ao peito.
Suas lágrimas eram
cristais rosas.
Há ainda tanto amor
dentro daquela mulher.

Vi também
que um homem chorava na
fotografia.
Quando os olhos dele
pousavam nos cabelos dela,
ele ainda sentia o perfume
e vivia de novo.

Algum dia,
ele tocará aquela pele
mais uma vez.
Algum dia,
ela soltará os cabelos
enquanto o jardim floresce.

Essa história
não me pertence.
Estou nela por acaso
enquanto o ocaso
cai nos meus olhos calmos.
Nestes instantes delicados,
olho para dentro
e
entendo o quanto aquela
mulher sou eu amanhã.




Karla Bardanza


 
















Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

SE E SEM, NÃO E NEM


Inaugurei a tarde
com a minha tosca depressão.
Veio aquele abandono que só infelizes
conhecem com profundidade.

Engatinhei para a cama,
cobri até o pensamento
com o edredom e fiquei
na sombra do meu próprio
escuro.
Dormi para esquecer.
(como se esquecer adiantasse alguma coisa)

Queria que a felicidade
corresse pra dentro de mim.
Ah! Se eu pudesse ficar exausta de feliz!
Mas, estou em exílio 
dentro do meu próprio país.

Não consegui ainda me tornar
uma pessoa satisfeita.
Quando tudo retorna,
começo a tremer, a ficar de mal
comigo mesma,
Rumino minhas pequenas tragédias,
toda enjoadinha como aquelas formiguinhas
que a gente encontra passeando dentro
do açucareiro.

Passei a tarde inteira,
duelando comigo mesma.
Sempre sou a minha pior inimiga,
a minha própria juíza
e inquisidora.

Perdi a luta.
Minha angústia puxou o gatilho
mais rápido e me deu três tiros
no peito.
Fiquei morta a tarde toda.

Quando ressuscitei,
eu só queria mesmo
era virar uma flor
ou talvez uma gaivota.
Uma joaninha seria bom também.

*

Tomará que essa fase
se e sem acabe logo
antes que eu fique não e nem.






Karla Bardanza











Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

ELA TEM UM ÚNICO MEDO

Ele vai encontrá-la
tão diferente.
-radicalmente diferente-
Menos encolhida,
mais orgulhosa,
menos desarrumada,
mais furiosa.
Os cabelos estarão menos curtos,
o olhar menos perdido,
as roupas mais sobrias,
as palavras mais caladas,
o rosto mais distante.
Ele vai encontrá-la
com a alma pesada,
com os braços cruzados,
e com o coração abotoado
para o amor não fugir dela
e chamá-lo baixinho.

Ele vai encontrar ela assim
e vai entender que algo mudou,
que ela não é mais aquela
e nem aquilo.
Não hã pretensão alguma
em surpreendê-lo.
Não há expectativa,
nem emoção,
e nem tampouco essa que ele vai
ver, será ela também.

Ela não sabe quanto tempo
conseguirá enganar a si própria,
nem  quando a maquiagem
vai borrar 
e o silêncio
vai abrir o caminho
para o rimel escorregar sem paz.

Ela não sabe mais nada desse amor.
Uma única verdade estará 
em seus bolsos:
o medo, o grande medo
de ter certeza de que ele pode ser feliz
mesmo sem ela.





Karla Bardanza










Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

AMANHÃ QUANDO ELA CHEGAR


 As palavras não querem falar comigo hoje.
Viraram as costas e foram todas
se perder pela noite.

E eu...
Ah! Eu fiquei assim
com cara de cachorro que caiu
da mudança e que não sabe para onde ir.

Faltam três minutos
para amanhã e nada acontece
com a minha musa:
essa menina obtusa que convidou
as minhas palavras para dar uma voltinha
e me largou aqui sozinha, sem
ter o que dizer.

Respiro fundo,
ouço nada.
Esse poema vai vazio
como o papel que me olha
e pede para eu ir com calma
porque ele é virgem.

Nada faço.
Minhas mãos suam e tremem.
Esse nesse negócio de primeira vez
me causa vertigem.
Ai!Não posso ver sangue não!

Saio do quarto,
lamentando a impotência,
a conjunção que não houve,
sento diante de mim
e
com os olhos cheios de conjuntivite,
aceito o convite do sono.
Mas, antes deixo a chave de casa
embaixo do tapete para a minha musa entrar.

Amanhã, depois que ela chegar da farra
junto com todas as minhas palavras,
vou ter muito o que contar.


Karla Bardanza










Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

MINHAS ETERNIDADES


Conservo a minha solidão
para aqueles momentos
em que preciso apenas do meu
pequeno êxtase.

Diante da beleza,
sou coração
e se choro,
doem-me as mãos,
verga a minha alma
com o peso do prazer
apenas meu.

O infinito que guardo
nas gavetas de meu cérebro
é para além desta vida,
dessas feridas que já cicatrizaram.

Estou aqui contemplando
o que se apodera de mim
e me esconde
atrás das estrelas:
um livro cheio de entrelinhas,
uma canção que sopra,
um lago cheio de kois e paz,
o mar me chamando.
Diante daquilo que enche
as minhas artérias de sangue
novamente, quero a solidão mansa
e leve
porque o que está aqui
é tão delicado
e
breve.

Sorvo cada gota de emoção
com a boca de luar,
com a cabeça aberta
para o universo
e
quando tudo se dissolve
na hora suave,
sinto-me um pouco
mais eterna.




Karla Bardanza













Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

AQUELES QUE TREMEM E RANGEM OS DENTES

 Agora que o Sol está em Leão
e o inverno despe as árvores, 
o frio observa aqueles que tremem
e rangem os dentes pelos buracos 
das fechaduras durante a noite enquanto
o vento sul sopra, carregando os folhas
que deitam nas ruas desoladas da vida.

Há uma mulher numa janela embaçada, 
sua alma procura por soluções,
seu coração cresce todo dia,
esperando por alguém
que nunca trará as respostas
que precisa ouvir.

Um homem alto está fumando sua vida
numa varanda, pensando em todos os erros
que sujam suas mãos, amaldiçoando a 
lua de sangue enquanto seus olhos coçam.

Eles estão pintando uma tela
que não  pode ser pendurada na parede.
Eles foram vencidos mas não sabem
ainda se a batalha foi perdida.

Uma garotinha está brincando
em seu quarto.
Ela fecha os olhos e a esperança
 abraça seu corpo machucado.
Ela é uma princesa sem coroa,
ela é uma fada sem uma das asas,
ela é algo que foi perdido e achado.
Toda noite ela reza por dias melhores.
Ela não sabe mas um milagre
está guardado para ela.

Subitamente, uma mulher abre a porta 
do quarto da garotinha.
(a mesma mulher que estava na janela)
Ela acaricia a cabeça sem cabelos de sua filha
e a nina até dormir enquanto os deuses
lá no céu com os seus olhos sempre abertos,
abençoam novamente
aquele amor perfeito e profundo.




Karla Bardanza


Não tenho o hábito de traduzir os poemas
que escrevo em inglês.Porém, este aqui foi escrito
em inglês primeiro. Fiz uma versão fiel ao original.
Espero que a mensagem tenha sido entendida.
Caso deseje ver o original, acesse o meu blog













Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

QUANDO LAKSHIMI FALA DE AMOR PARA VISHNU



 Quando fostes Rama,
eu fui Sita.
Quando fostes Krishna,
eu fui Radha.
Quando fostes Vishnu,
eu fui Lakshimi.
Todas as nossas vidas,
cabem na delicadeza da Flor de Lótus
e na suavidade da pétala de um jasmim.
Tudo que vem do amor,
sempre estará aqui.

Juntos governamos a água,
juntos somos um.
Quem apenas te adora,
não adora nenhum
porque tu e eu
somos uma única força
e
dimensão,
porque dentro de ti, Amado Vishnu,
cresce a minha alma
e
 o meu coração.

O amor verdadeiro
sempre requer sacrifícios,
sempre transcende o agora
e ao que se pode ver.
O nosso tempo
é o tempo que sempre foi
e que ainda virá a ser.
O nosso tempo, Amado Meu,
está guardado
nos mistérios dos oceanos,
nas profundezas ignoradas de todos os mares.

Quem nos encontra,
flutua acima de todos os ares,
de todas as imperfeições
que escondem a cegueira.

A verdadeira luz
é para quem deseja de olhos abertos
e limpos.
Amado Meu,
nada és sem a minha força doadora.
Amado Meu,
nada posso ser sem a tua sombra
forte e protetora.

Quando vierem nos buscar,
iluminem todos os caminhos,
celebrem a vitória sempre do bem.

Somos agora Lakshimi e Vishnu
e tudo que está além.
Somos o todo 
que se completa
assim como deve ser
porque tanto tu como eu,
somos um único poder.



Karla Bardanza

Para você entender Lakshmi











Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

FOI SÓ O AMOR

Passionate Kiss, de Michelle Conner



E da intensidade,
fica o amor na boca
como gosto e mansidão.

Coisas assim
crescem nos cantos escuros
do coração, sussurrando
momentos de nudez
quando nada mais
se tem para lembrar.

Abro as mãos,
a saudade está ainda escondida
lã, nas linhas da vida
que nos colocaram
um de frente para o outro
quando eu havia perdido a vontade,
e você não sabia como lidar
com as nuvens.

 Enquanto escrevo,
observo com tristeza
a minha alma do outro lado
do lago e sinto,
e ainda sinto
que o que restou de nós dois,
foi só o amor.




Karla Bardanza

 





Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

PALAVRAS SÃO CORES

 Colo adjetivos no espelho,
advérbios nos joelhos,
trago nas mãos todos
os verbos de ação.

Gosto de sujeitos
de mãos dadas
com os seus verbos
de ligação
e de predicativos
vivos.

Minha sintaxe 
foi concebida
para falar de vida
mesmo quando
sou um objeto
direto e indireto
nas mãos do destino.

Às vezes, sou apenas
uma conjunção apassivadora,
esperando o condicional passar.
Outras, estou no modo subjuntivo
e tudo que preciso é de
um lenitivo.
de algo que me transforme
num advérbio de intensidade.

Debruço-me nas entrelinhas
da minha gramática
e busco a prática diária
da conjugação do verbo,
dando voz a todas as pessoas.

E depois,
bem depois,
saio procurando a melhor metáfora,
abençoando a semântica,
beijando a boca da poética,
viajando pelas letras.

Caminho sem volta,
labirinto de flores,
palavras são cores
para misturar:
algo sempre nasce
com um matiz diferente.
Palavras são o que sempre
me fazem sentir
que eu sou um mundo
de gente,
um punhado de sentimento.

Agarro todas as consoantes
e vogais e afundo no tempo,
escrevendo 
coisas que ainda não sei dizer
porque o verbo continua dentro
de mim, me conjugando
todo dia, quando quase não sei o português
e finjo que faço poesia.



Karla Bardanza










Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

INQUIETA-MENTE

 De repente,
o céu ficou mais longe
e as coisas inacessíveis.
Fiquei sozinha comigo,
perdendo os pedaços
na cama, amaldiçoando
os sonhos que se intrometiam
na dor grande demais
para carregar.

A claridade da manhã
incomodava as paredes,
o espelho, os meus cabelos
desalinhados.

Não queria quase nada:
apenas dormir
e
esquecer.
Todas as minhas inquietações
mordiam os meus pensamentos,
cravando seus dentes finos
em minhas fragilidades
e eu...Ah! Eu já não tenho mais idade
para ser igualzinha a mim.





Karla Bardanza











Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

PEQUENO DELITO DE VIVER

 Ela se deu por vencida:
caiu no chão
e
ficou deitada, olhando
para parede cheia de infiltrações,
para o teto mofado,
para o relógio parado
na prateleira.
Estava cansada,
apenas cansada
de dar murro em
ponta de faca,
de tentar as possibilidades
e
por alguns minutos,
saboreou o fracasso
dos diplomas,
a falta de dinheiro,
a indignidade de não ter
chegado lá.

A vida tinha dado errado.

Não chorou,
não acusou a si mesma
pelo crime culposo,
pelo pequeno delito
de viver.
O resultado era ilícito,
os danos não puderam ser evitados.
Não sabia se havia sido negligente.
Não sentia que tinha sido imprudente.

As lesões não eram somente corporais.

Não titubeou diante do flagrante crime:
estendeu as mãos
e pela primeira vez
rendeu-se ao fato
de ser uma derrotada
com título de honoris causa.

Agora ela espera por
julgamento atrás das grades
da vida
segundo dizem os seus pensamentos,
acredita veementemente que nunca mais
será absolvida da difícil
tarefa de ter fracassado.







Karla Bardanza

Acesse o site Em Estado Permanente de Flor e faça
o download do livro Em Estado Permanente de Flor
ou leia um pedacinho dele on line aqui.







Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

OLÁ MINHA LEITORA! OLÁ MEU LEITOR!



Olá Caro/a Leitor/a

Você pode baixar o meu e.book
 
Em Estado Permanente de Flor.

É só acessar o site



ou ler um pedacinho dele on line aqui.

Com carinho


Karla Bardanza






Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados

OCEANOS SEM NAVIOS

 Em oceanos sem navios,
Ela navega sem olhos,
Impregando o vento de
Dúvidas, buscando no céu
Aqueles caminhos desencontrados
Da terra, da sua guerra surda
Com a delicadeza de uma sereia
Sem voz.

Dentro dela,
Existe um mar que morre
Devagar após o jantar,
Após os passos pesados
Dele pela casa à deriva.

Quando ele percebe
Que ela respira é sempre
Tarde demais.
E ela, afogada na distância,
Nunca quer mais.





Karla Bardanza





Copyright © 2011 Karla Bardanza Todos os direitos reservados